Das areias para a neve: por um sonho, cearense se aventura no snowboard

Querendo provar que o sandboard, onde é campeão mundial, pode servir de base
de treinos para competições na neve, Bruno Sales estreia no Campeonato Brasileiro

O sol escaldante de Paracuru, no Ceará, dá lugar ao frio intenso de Curacautín, no Chile. A areia fina não existe mais, e a neve domina a paisagem. Bruno Sales está distante do seu “habitat”, mas cada dia mais próximo do seu sonho. Campeão mundial de sandboard, o cearense de 27 anos deu, em 2015, os primeiros passos da migração para o snowboard e tem metas ambiciosas. Vivendo os extremos, o atleta vê semelhanças entre a radicalidade das dunas de areias e dos vales nevados e quer provar isso logo na primeira vez em que pisa na neve. Neste domingo, Bruno estreia entre os amadores no Campeonato Brasileiro de snowboard na estação chilena de Corralco e, apesar de sair do calor de 40ºC para o frio de 5ºC, tem metas ambiciosas no curto, médio e longo prazo.

Bruno Martins snowboar corralco chile brasileiro - sandboard (Foto: Thierry Gozzer)Bruno Sales faz a sua estreia em competições com neve durante o Campeonato Brasileiro (Foto: Thierry Gozzer)

– Já entrei para esse Brasileiro evoluindo muito, mostrando que o sandboard é um treinamento e uma base para o snowboard. Sonho com uma Olimpíada de Inverno. Cheguei no ápice no sandboard sendo campeão mundial. Dá para chegar nos Jogos Olímpicos, dá para representar o Brasil em um campeonato grande, um X-Games. Meu sonho é estar num lugar desses, passar na televisão, ver a minha família, meus alunos me acompanhando, e representar a minha cidade – garante o cearense.

Bruno Martins snowboar corralco chile brasileiro - sandboard (Foto: Thierry Gozzer)Bruno fez uma campanha para arrecadar fundo e competir no Chile (Foto: Thierry Gozzer)

Bruno começou a encarar as dunas de Paracuru aos 12 anos. Com pranchas improvisadas, descia e mostrava habilidade nas areias. Com 15 anos dedicados ao esporte, conseguiu títulos importantes, como os mundiais de 2013 e 2014. Em 2015, resolveu se aventurar na neve. Primeiro, disputou um campeonato semiprofissional em uma estação indoor no no Sul do Brasil. Ficou com o terceiro lugar na competição semiprofissional. No mesmo ano, em São Roque, São Paulo, beliscou o terceiro lugar na modalidade “Slopestyle”, com descidas e manobras, e o primeiro lugar na “Big Air”, onde os saltos na neve artificial impressionam. Em Corralco, o cearense pisa na neve pela primeira vez graças a ajuda de amigos e internautas que doaram R$ 5 mil para que ele pagasse as despesas da viagem.

– Estou realizando um sonho por estar na neve de verdade. Graças a ajuda de amigos, que estão todos torcendo por mim. No sandboard é tudo mais barato. Quando se trata de frio, tudo fica mais caro. Eu e outros amigos que trabalham com edição de vídeos criamos um vídeo proposta, com uma campanha para arrecadação de fundos, mostrando o meu trabalho com as crianças e o meu objetivo, que é mostrar para as crianças que o sand é uma base para o snow. Consegui juntar R$ 5 mil e estar aqui agora. Em pistas artificiais do Brasil você tem 120 metros de descida. É bem rápido, logo acaba a descida. Aqui você tem uma montanha de quilômetros para fazer as descidas. Passa mais de cinco minutos dropando, descendo todo o tempo – destaca Bruno.

Bruno Sales, sandboard, Brasil (Foto: Reprodução Facebook)Cearense é bicampeão mundial no sandboard e tenta a carreira no snowboard
(Foto: Reprodução Facebook)

Apesar da proximidade de estilo e de dinâmica dos dois esportes, Bruno está se adaptando aos poucos. Mesmo assim, vê mais semelhanças do que diferenças entre os dois e defende que a modalidade das areias sirva como base de treino para futuros atletas de inverno.

– O snow desliza bem mais porque o gelo é água e na areia tem um atrito maior. Na areia você também usa demais o peso de trás das costas e no snow se usa muito a parte da frente e base centrada. As manobras têm o mesmo nome, as mesmas bases, tanto é que usamos as mesmas botas e equipamentos, só muda a prancha, que é feita para a areia também. E aqui na neve você consegue voar bem alto, bem mais que na areia. Tenho certeza que o sandboard pode servir de base de treinos para um futuro atleta de snowboard. Quero provar isso – diz o competidor, que em Paracuru trabalha em um projeto social que ensina sandboard para crianças carentes.

Bruno Martins snowboar corralco chile brasileiro - sandboard (Foto: Thierry Gozzer)Coberto por equipamentos, Bruno tenta se adaptar ao novo esporte (Foto: Thierry Gozzer)

O único empecilho para a completa adaptação está nas roupas de treino e competição. No sandboard, Bruno sempre está no calor, com pouca roupa, às vezes até sem camisa. No snowboard, precisa se cobrir com roupas pesadas e que limitam sua movimentação tradicional.

– Essa é até uma das minhas maiores dificuldades, essa quantidade de roupa. A calça é bem frouxa. Mas tem que ser assim, é muito frio. Lá é mais à vontade, aqui não tem o que fazer. Em todos os campeonatos de sandboard a temperatura varia entre 30ºC e 45ºC. Aqui é essa friaca. Aqui é cinco graus para baixo sempre. A bota é geralmente a mesma, o equipamento de prendê-la também. Muda a prancha, e que no sand não usamos óculos. Aqui usamos porque o sol é refletido na neve e atrapalha a enxergar. O capacete do sand é aberto, não projete a orelha, e no snow é todo fechado. Mas essa vontade de praticar o esporte, de mostrar para os meus alunos que é possível, é o que me motiva ainda mais e me faz vencer o frio, me adaptar perfeitamente e representá-los bem nesse campeonato – diz Bruno.

Na última sexta-feira, Isabel Clark, no feminino, e Lucas Rezende, no masculino, venceram o Campeonato Brasileiro entre os profissionais. Melhor snowboarder da história do país, Isabel também conquistou as duas etapas da Copa Sul-Americana disputadas no Chile. Lucas terminou a primeira em nono e a segunda em sétimo.

G1

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