Pódio inédito e quarta tattoo: fera do basquete almeja novos mimos pós-Rio

Principal atleta da seleção brasileira, Lia Soares é acostumada a eternizar imagens do esporte no corpo. Após um ano sem sair de casa, camisa 12 serve de inspiração

Com 10 anos dedicados à seleção feminina de basquete em cadeira de rodas, Lia Soares chega à sua terceira edição de Paralimpíada como a principal jogadora de uma equipe repleta de sonhos. Aos 29 anos, ela fez parte das trajetórias de Pequim (11º) e de Londres (9º). No Rio, o objetivo é melhorar e se aproximar de uma medalha inédita na história da modalidade desde sua entrada no programa paralímpico em 1960. Mas a missão é ingrata.

Quarto lugar no Parapan de Toronto, em 2015, o Brasil terá pela frente potências na modalidade. No mesmo grupo, já foi derrotada pela Alemanha (atual campeã paralímpica) e ainda pega o Canadá (atual campeã mundial e parapanamericana). Na outra chave, Holanda e Estados Unidos prometem atrapalhar.

– Estamos numa crescente de uns anos para cá. Tudo é possível e vamos demonstrar isso em quadra com o decorrer do jogos. Todo mundo almeja essa tão sonhada medalha que ainda não temos. Batalhamos duro por ela e um dia vai acontecer – declarou Lia, torcendo para ser em seu país.

Lia Martins é tietada após vitória do Brasil sobre a Argentina no basquete em cadeira de rodas (Foto: André Durão)Lia Martins é tietada após vitória do Brasil sobre a Argentina no basquete em cadeira de rodas (Foto: André Durão)

Se acontecer, a paraense vai tatuar a quarta medalha referente ao basquete no corpo – ela tem outras sem conotação esportiva. Antes do Pan de Guadalajara, em 2011, Lia e outras companheiras eternizaram na pele o nome da cidade mexicana e o ano da disputa. Deu certo. Semanas depois, subiam ao pódio com o inédito bronze no pescoço. Desta vez, não tiveram tempo para uma pré-tatuagem.

– Nós fizemos antes de ir para lá (México) e ganharmos o bronze. Primeira medalha de (alto) nível. (Desta vez) não deu tempo, foi muito corrido. Pretendo fazer ainda e ganhar essa medalha – afirmou a camisa 12, que também tem estampada um L12, referência ao seu número e nome, e os aros olímpicos.

Natural de Belém do Pará, Lia Maria conquistou títulos individuais, incluindo o Prêmio Paralímpico de 2012. Porém, há uma década, isso era algo que nunca passara na sua cabeça. Recém-formada no colégio e avessa ao esporte, Lia caminhava para entrar numa faculdade, quando um motorista alcoolizado lhe tirou o direito de andar.

– Sofri um acidente de carro e tive fratura exposta na perna, que me levou a ter que amputar (uma parte da perna direita). O motorista estava alcoolizado, perdeu o controle do carro e atropelou o pessoal na rua. Não prestou socorro, nunca o conheci e nem quero. Passou. Depois de ter sido atropelada, embora tenha sido uma tragédia, só aconteceram coisas boas.

Um ano após sofrer reclusa, sem coragem de ter uma vida social, só saindo de casa em casos de extrema necessidade, Lia voltou a se aceitar como ser humano em uma dessas saídas “obrigatórias”. Em um órgão público do Estado, para tirar documento que comprovava sua deficiência, conheceu uma guarda. Esse tinha ligação com uma equipe de basquete em cadeira de rodas da cidade e a convidou para conhecer.

– Fiquei curiosa para saber o que era o basquete, nunca tinha jogado na vida. Fui no mesmo dia. Meu antigo técnico, Wilson Caju, disse que eu tinha grande potencial se me dedicasse, se seguisse os treinos à risca. Me empolguei com isso. No mesmo ano, fui convocada para seleção. Gostei da coisa e, graças a Deus, deu certo.

Descrição da imagem: com tatuagens no braço direito, Lia Soares domina a bola contra a Argentina (Foto: André Durão)Descrição da imagem: com tatuagens no braço esquerdo, Lia Soares domina a bola contra a Argentina (Foto: André Durão)

Lia pegou gosto, se esforçou, entendeu que podia viver daquilo e ser boa no que fazia. Se até então o mundo era algo desconhecido e distante, agora a jogadora passava a descobri-lo.

– Só estudava, nunca tinha viajado. Com o basquete, conheci o mundo. Conheci Pequim, Londres, Guatemala, México, Canadá…O basquete me fez conhecer culturas novas, pessoas diferentes, isso fica gravado na nossa mente. A cada ano, aprendo coisas novas. Minha vida mudou com o basquete, me tornou independente, me proporcionou só coisas boas. É o que amo fazer, o que me dedico de 10 anos para cá. Minha paixão só aumenta. Enquanto Deus me der força, vou estar nesta vida.

Com dois jogos, três pontos, 50% de aproveitamento e a quarta colocação do grupo A, Lia e suas companheiras precisam vencer a Grã-Bretanha neste domingo, às 21h30, na Arena Carioca 1 não complicar o sonho dos mimos paralímpicos. Das cinco seleções, quatro avançam às quartas. Depois das britânicas, as brasileiras encerram a participação na primeira fase encarando as fortes canadenses na segunda-feira.

Ge

 

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